AFRICANA, Mitologia

Deusa Mawu

Deusa Mawu ou Mawú, seria para os povos fóns a maior divindade do panteão. Seu poder é comparado ao do grande Deus Supremo e em muitos lugares do antigo Dahomey, é o próprio.

Esta religião é formada por vários povos oriundos de distintos vilarejos na África, logo, existe uma distorção do culto, com informações e lendas que se contrariam. A nação Djedje, por exemplo, é formada por descendentes do antigo Dahomey (atual República do Benin), e é composta por histórias contadas por ancestrais de todos os vilarejos que compõem esse país, tais como Allada, Abomey, etc. Por este motivo existe um excesso de cultura e uma eventual confusão relacionada à origem das divindades. Basicamente é como se pegasse o Brasil e transformasse em uma religião e misturasse todos os povos de todos os estados. O resultado seria os mais variados sotaques e dialetos e toda a história cultural de cada estado, tais como lendas, fé, devoção, etc. Certamente Mula sem Cabeça, Saci, Iara, dentre outros se tornariam deuses e cada descendente de cada estado, contaria sua versão sobre a divindade em questão. Parece confuso, mas foi mais ou menos isso que aconteceu séculos atrás, com a vinda dos negros para o Brasil, escravizados pelos portugueses. Por este motivo, é meio contraditório falar dos deuses africanos, uma vez que no próprio Dahomey existem várias versões para a origem e domínio de seus deuses.

Mawú por sua vez, em alguns vilarejos é cultuada como filha de Nànàn Gbúlúkú e em outros como Mãe. A segunda versão da história é a que parece mais plausível, então continuaremos com base nesse princípio neste texto. Dangbé, a grande serpente da vida, teria tido quatro filhos, que seriam os primeiros deuses que compunham o panteão Fón: Mawú, Lisá, Aido Wuedo e Dangballa. Mawú seria feminino, a deusa Lua; Lisá seria masculino, o deus Sol; Aido Wuedo seria o arco-íris, o Deus o frescor e Dangballa seria sua companheira, o seu reflexo nas águas. Mawú e Lisá eram muito unidos, sendo às vezes confundidos como uma única divindade, sendo visto desta forma em algumas aldeias que compõe o Dahomey. Mawú e Lisá deram origem a muitas divindades, dentre elas a grande Nànàn gbúlúkú ou Nae Igbayn, e outros deuses que fazem parte diretamente do nosso culto, tais como Gú, Agué, Azansu, Aikuguman, Sogbo, Vodun djó, Legba e Azili (Aziri). Lisá era muito quente e arredio, tendo muitos pensamentos contrários ao de Mawú. Mawú era uma deusa benevolente, calma e que, protegia os seres humanos, trazendo paz e harmonia para a terra. Lisá por sua vez, era muito autoritário, severo e adora punir aqueles que quebravam as regras impostas pelos deuses, castigando-os. Deusa Mawú chateada com seu companheiro se retira da terra e foi residir na Lua. Lisá se sentiu só, e retirou-se também, porém foi morar no sol. Deusa Mawú e Lisá todos os dias apareceriam sobre a terra, iluminando o planeta e vigiando de longe seus filhos. Lisá, quente e austero, apareceria de dia, onde a maioria dos seres estão ativos, prestando atenção em tudo o que se passa na terra, e continuaria punindo aqueles que erravam.

Deusa Mawu apareceria de noite, onde a maioria dos seres descansavam, e traria a paz, a harmonia e o perdão para os que erram. Os seres humanos sentiram falta de Mawú e clamavam sua volta, pedindo que os ajudassem e que olhassem por eles. Por este motivo, é comum vermos frases ou orações que clamam à Mawú pelos seres da terra, pedindo auxílio, proteção, etc (Máwu mi nô que significa Deus nossa mãe é um termo usado pelos povos fóns que exemplificam essa devoção ao vodun Mawú). Quando os colonizadores chegaram a Dahomey e viram essa veneração pela deusa Mawu, acabaram por definir que a mesma seria a deusa ou deus supremo da região, partindo daí a confusão que compara Mawú ou às vezes Mawú-Lisá como a divindade maior dos povos fóns.

Segundo as lendas, deusa Mawú e Lisá de tempos e tempos, ainda se encontravam, formando o que é chamado de eclipse, e nesta ocasião matavam as saudades, faziam amor e davam origem a mais voduns.

Deusa Mawu tinha como principal sacerdotisa Nànàn gbúlúkú, que deixou um legado de como sua mãe seria cultuada. Nànàn ou Nànà seria um título dado a toda sacerdotisa da deusa lua, formando um clã feminista, uma sociedade secreta.

Deusa Mawu é o princípio feminino, a deusa do frescor, do perdão. Seria aquela que trás os sonhos para a humanidade. Senhora do descanso, da cura e da fé. Não seria iniciada, uma vez que ao contrário de Lisá, não voltou mais a terra. Muitos sacerdotes, motivados pelo sincretismo religioso e pela necessidade de existir uma comparação entre as divindades da nação djedje, ketu e angola, acabaram por confundir Mawú com Íyèmònjá, por um ser a mãe de muitos voduns e a outra a mãe de muitos òrísás, passando então a inicia-la em suas casas. Para nós, estudiosos e historiadores, Mawú é um vodun supremo, não tendo como iniciá-la em um neófito, porém, existindo cultos e certos fundamentos para tal divindade.

Deusa Mawú sem dúvida é uma divindade de extrema importância, tendo regência sobre a fertilidade, a vida e toda a essência do sexo feminino. Seria ela a divindade da procriação, da gestação e da propagação da vida terrena. Para os mais antigos, a lua sempre foi uma potencial influenciadora nos assuntos terrenos, agindo sobre mulheres grávidas, determinando dias para os ègbós e obrigações, interferindo na maré, dentre outros fenômenos dependentes de ações lunares e que são comprovados cientificamente. Logo, assim como o Sol, a lua possui sua importância, seja cultural ou científica, e sempre foi um astro misterioso, que encantou os seres humanos desde quando foram criados.

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Os Voduns

Mawu não fazia contato direto com os homens, mas delegava seus poderes aos Voduns. Os Voduns constituem uma classe especial de criaturas vivas. Estão acima da humanidade, mas não são divindades, eles são os sinais que emanam do divino em resposta aos desejos espirituais da humanidade. Deste modo, Vodun designa tudo que é sagrado, todo o poder do invisível, que influencia o mundo dos vivos. Examinemos então a dinâmica do Panteão Vodun:
GU, Vodun dos metais, guerra, fogo, e tecnologia.
HEVIOSSO, Vodun que comanda os raios e relâmpagos.
SAGBATA, Vodun da varíola.
DAN, Vodun da riqueza, representado pela serpente do arco-íris..
AGUE, Vodun da caça e protetor das florestas.
AGBE, Vodun dono dos mares.
AYIZAN, Vodun feminino dona da crosta terrestre e dos mercados.
AGASSU, Vodun que representa a linhagem real do Reino do Daomé.
AGUE, Vodun que representa a terra firme.
LEGBA, o caçula de Mawu e Lisa, e representa as entradas e saídas e a sexualidade.
FA, Vodun da Adivinhação e do destino.
Os voduns na África são agrupados em “famílias” chefiadas por um vodun principal, ora representando um elemento ou fenômeno da natureza, ora da cultura.

No Brasil os voduns são cultuados nos terreiros de Candomblé.

Quer conhecer um pouco mais sobre a cultura africana acesse o site, Umbandando.

Aho gbo gboy Mawú! Aho!

Fonte: Africa O Berço do Mundo, Marco Negro e Rosane Volpatto

Fotos: Pinterest

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